29.6.06

projetos e projeções

apego, não apaga.
iriam ou vão?
isso não é equação, não é porta e nem é transporte.
não é que o amor também se camufla?! bem nos encanamentos da casa que virá.
perceber, interpretar, o que quer dizer quando desencaixa?
a imaginação quer dizer. o coração quer falar.
de como uma coisa só podem ser várias diferentes, e principalmente, de como várias coisas podem ser iguais.
inexatamente aquelas palavras que faltam para descrever estar pelado de amar.

28.6.06

caverna

saudades, quando não é especificada, é nostalgia.
amor, quando sente falta, é de si. nem saudades nem nostalgia. pressentido.

como eu queria morar em você, para tornar desnecessário escrever nas paredes.

26.6.06

atribuições

foi comprar cigarros na banca de jornal, últimos reais. chegou na banca, pediu o cigarro, foi pegar o dinheiro e tomou um susto. alguma coisa mordeu seus dedos! como nunca teve vocação para a economia então sabia que não podia ser um escorpião, que teria evitado até que se chegasse isso- e então achou que não tinha sido mordido, devia ser alguma coisa nos nervos ou um espasmo muscular mesmo.
e colocou a mão no bolso novamente. e mais uma mordida. não se intimidou e afundou os dedos procurando a causa do incomodo. tateou e só encontrou as duas notas um real. amassou-as e tirou do bolso.
antes de entregá-las ao jornaleiro resolveu desamassar. uma das notas abriu a boca e mordeu seu dedo. a safada não queria largar! o jornaleiro não acreditou.
enquanto um real mordia, a outra nota começou a chorar.
conseguiu soltar o dedo da nota e entregou os dois reais para o jornaleiro, que as colocou no caixa e aproveitou para perguntar como estava o dedo. como se já fosse amanhã.

23.6.06

luz verde

decidir entre o vento e o remédio. vazamento de gás, preciso ir ao dentista. gengiva vermelha.
bolão da copa tira a graça dos jogos, mais gol, menos gol. mais varig, menos varig. nota fria, posto de gasolina, dinheiro é fonte renovável. lastro em bronzeamento artificial. amarelo, atenção!
o sol vazando particulas, os carros vazando particularidades.
rua minguante, quarto de céu, farmácia nascente, rua cheia.
a presença do que asfalta.
atravessar a rua é questão de semáforo íntimo.

21.6.06

um nada

5 minutos para pensar em alguma coisa. tem gente que corre da morte, tem gente que corre do trabalho, tem gente que corre do amor, tem gente que corre de casa.
mas mesmo assim todo mundo é encontrado.
nem chega a ser irônico, já que é óbvio. não que o óbvio não possa ser irônico, está ai a gravidade para provar isso. niguém flutua.
lembranças da balada no crematório, onde todo mundo paga a consumação. e o mundo preto e branco vira cinzas.

19.6.06

auto-sabotagem

em uma sociedade que procura sempre a felicidade, chega invariavelmente o tempo em que as pessoas acabam se contentando com a tristeza.
é por isso que a editora firmamento tem o prazer de anunciar uma nova era na literatura brasileira. chegou a vez dos maus conselhos e das desgraças repetidas, dos mantras malditos e de comemorar as derrotas.
a honestidade infernal dos arrotos fora de hora, dos tropeços públicos, das promessas invertidas e das previsões descabidas finalmente encontra sua expressão mais justa e mau remunerada.
escreva um livro você também.

14.6.06

a copa é nossa, mas a cozinha é deles

os pastéis se revoltaram. principalmente os das feiras. especialmente os de tomate e queijo.
a feira é a mãe dos ideais dos girinos. os girinos são os grandes legisladores da atualidade.
os girinos gostam de pastel.

11.6.06

a cabelereira namora o careca porque não gosta de levar trabalho para casa

pagou para entrar, pagou para sair, pagou para se divertir, pagou para ir ao banheiro, pagou para olhar nos olhos e pagou para morrer.
depois cobrou para ficar, cobrou para entender, cobrou para ser entendido e cobrou para deixar.
calculou e resumiu:
os impostos se atraem.

notícias dão conta de que começa nessa terça feira a campanha " 1 dia sem armas", cujo slogan é: não atire hoje em quem você pode atirar amanhã.

eu vendo você,
você me compra
de olhos atados
sem piscar.

7.6.06

o que eu pensei sobre amor hoje

azar o do saci que está sempre com um pé atrás.
era de amar e não sabia; a gata desconfiada.
dilatados os corações é pertinente acariciar o oxigênio.
do sentimento que não está nem certo nem errado dança-se em quadrilha.
dando nomes para as pessoas pelo caminho.
não cabia.

6.6.06

remédio

frases dos deputados federais sobre a catarse do mlst no congresso federal:
" nós somos homens de bens"; essa foi do rodrigo maia.
" temos que impor limites para esse povo"; inocêncio oliveira.
" o judiciario tem policia, o executivo tem policia, só nós que não temos. somente temos seguranças, e eles estão desarmados." zulaie cobra.

alguém para fazer uma reconstituição histórica? não. todos acuados na sala niemier, preocupados com a integridade física. discutindo se foi uma ação da esquerda ou um embuste da direita, preocupados com a imagem do congresso, com a destruição dos computadores informativos na entrada do salão verde.

a distribuição de terra não aconteceu, a de renda nem se cogita, então vamos distribuir a idiotice mesmo, que essa é de graça e não atrapalha o latifundio.

agora uma cena: o menino pegou a bola de futebol, ergeu-a na altura dos olhos e disse: ser ou não ser, eis a questão, sou o cônsul brasileiro nos semáforos de são paulo, fazendo embaixadinhas...

5.6.06

tédio

vinha subindo a rua pensando em frigideiras. é que havia pouco tinha perdido um dos chinelos e o asfalto estava quente. por estar quente saiu de casa e por isso usava chinelos. por isso lembrou de cortar as unhas dos pés. lembrou de pegar o cortador de unha quando estava fritando um bife na frigideira velha. então saiu para comprar uma nova.
cutucou o elefante no joelho com a unha do sexto dedo da terceira mão e ai pensou - toda música é russa se tomada na hora certa.
acordou parado em uma pista de atletismo, na linha de largada. estava chovendo, olhou ao redor e viu um senhor com uma arma na mão. atentou para a frente e viu os corredores das outras raias já a meio caminho. olhou para o próprio corpo e viu que estava vestido de freira.
tentou dar um passo, mas desistiu, não queria sair dali. coçou a barba e procurou algum arco íris por perto.

exercícios

moedas gordas, muros leprosos. unicórnio eleitoral, dúvida cauterizada. cachoeira mascada, átomos perplexos.
fosse a fossa um fosso faria frente aos fatos.
como não é, então torna-se uma extensão da cama.
o carro travesseiro, a lembrança lata de cerveja, o tribunal casca de ovo.
a esquerda no poder é a direita com discurso. o mesmo vale para o amor e para o tesão.