31.8.06

gráficos de desempenho

a falta de vontade ganha cada vez mais corações e mentes no país do futuro. não se trata de tratar as situações como sobremesa após a feijoada, coisa de satisfação; é pura honestidade preguiçosa. veja só, ao invés de inventar qualquer bobagem para justificar a ausência em algum evento basta dizer; não estou com vontade. mesmo com o risco de ouvir um desaforo, a chance de uma argumentação é nula. no máximo vão te julgar um vagabundo. coisa que você já descobriu faz tempo.
no trabalho é o suprassumo do mistério. já fez? não fiz. por quê? não quero. mas vai fazer? vou, pode deixar. só podem te considerar um gênio eficiente ou um completo incompetente. em qualquer dos casos, pode confiar que você sai ganhando. ( uma promoção ou o seguro desemprego, em quase todos os casos servem ao mesmo propósito, o de sair dali sem precisar fazer esforço).
a falta de vontade também serve para relacionamentos capengas. afinal de contas, na hora de colocar as cartas na mesa, é só dizer: não quero, e pronto. mais uns dias com o cartaz "em obras". e também serve para bons relacionamentos, afinal a falta de vontade é uma boa desculpa quando te questionam se você está insatisfeito com seu amor. "não quero mais nada, meu amor".
agora, a melhor coisa da falta de vontade é que ela te protege da tremenda decisão que você tomou em sua vida, o elixir da sua existência vã. a vontade de faltar.

30.8.06

páreo aéreo

passei na frente do hipódromo e vi que alguém estava sendo homenageado. ia reto quando um cavalo quase me atropelou. era o homenageado. super campeão de não sei quantas voltas, não queria a aposentadoria. foi atropelado por um carro forte.
o dono do campeão chorou a morte de seu troféu. o jóquei não conseguia irromper o cordão que se formou em volta de sua montaria e eu fiquei com o pé doendo.
se isso fosse uma história moral eu diria que o cavalo aprendeu mas não pode usar, o dono usou mas não aprendeu e eu aprendi a mancar.
anda bem que o frio estava lá para me lembrar de pegar um drink com o garçom e fazer de conta que estava na festa também. é assim que uma balada vira um funeral para uns e uma caminhada vira um longo e singelo aviso.

29.8.06

até daqui a pouco

motivos. telefonar para não falar. razões.
à vontade para não precisar, no sentido exato. dos desejos que existem sem querer.
um coração na bandeja.
só pela companhia, sou isso aqui.
essa porta aberta apresenta o que vai desaparecer com o que vem surgir.
inverno astral.

um erro de julgamento

a própria mesa. quando iria imaginar que seria traído pela própria mesa?
gostava do sol, então ficou mais indignado que fosse em um dia bonito. preferia que tivesse sido em um dia ruim. como hoje.
a salvação, tinha mais uma só guardada e esqueceu aonde colocou. pensou que estava em cima da mesa, mas não estava.
encontrou com a verdade na rua, perdida; tentando achar sua casa. ela só se lembrava do próprio nome, mais nada. parecia gostar de sementes de girassol também. estava com um saco cheio delas nas mãos. será que a verdade tinha um papagaio?

28.8.06

recreio

era bom em se investigar. o procedimento essencial, se colocar na parede, a luz na cara. tirar fotos do espelho e seguir os passos até a casa das drogas ou até o caixa eletrônico. sem surpresas, selar as diferenças, assinar a confissão.

27.8.06

matemática

fuligem existêncial e caneta no final, difícil arriscar.
energia nuclear e lixo radioativo, zoológico ou supermercado. as esquinas vacinadas e as bundas vicinais.
ela estava cansada da distância então atentou contra o tempo, deu marcha a ré no dilema e deixou o corpo tremendo com a previsão das nuvens.
era uma bomba, em algum estágio do carma.
a raíz quadrada do sol do inverno são os investimentos em módulo.

24.8.06

fósforos de verdade

ver um velho, comprar cigarros.
o boné do mendigo, esquecer os cigarros.
contar as pessoas, cheiro de cigarro.
sentir o tempo, uma fila de fumantes.
sentir saudades, só fumar meio cigarro.
tentar parar, seguir na rua.

10.8.06

ligações aleatórias

todas as conversas foram devidamente traduzidas para o português:
chequei o código do país e da área e liguei despretenciosamente para um número na inglaterra :
- alô, por favor o dono da casa.
- sim, posso ajuda-lo?
- senhor, somos um centro de pesquisas mundial e estamos interessados na sua opinião sobre a qualidade dos desenhos animados.
- não sei, provavelmente aprovo, desde que eu não saiba de nada.

depois repeti o procedimento em uma ligação para os e.u.a:
- alô? gostaria de falar com o proprietário.
- espere um segundo que ela está atirando nos pardais, nós odiamos quando eles fazem ninhos nas nossas árvores!
- eu espero...
- alô? fale rápido que a arapuca ainda não está pronta e meu primo de israel quer jantar passarinho.
- por favor senhora, gostaria de saber sua opinião sobre a alta nos preços das rolhas.
- o preço das rolhas aumentou?!
- sim senhora!
- inacreditável...

mais uma vez, agora para o líbano:
- alô?... alô?...
- você acessou a caixa postal, deixe seu recado após o estrondo...

agora são paulo
- alô? deixa eu falar com seu pai.
- não conheço...
- e sua mãe?
- foi trabalhar.
- então me deixe falar com alguém mais velho.
- eu sou o mais velho daqui! já concorri a quatro eleições. perdi 3, mas ganhei 1 e agora vou ganhar outra!
- está bom, você serve. o que você acha que daria o cruzamento de um raio-x com uma bolinha de gude?
- deixa eu pensar... já sei: combate à ética e salários baixos?!

9.8.06

maçaneta

se a sanidade fosse uma poupança, então estaria preso na conta corrente.
se o carnaval fosse uma caneta, a tinta tiraria o papel para dançar.
quando os elefantes se beijam dão trombadas.
se houvesse cuidado ninguém deixaria a consciencia tratar a compreensão com tanta indelicadeza.
se eu não conhecesse meus fantasmas diria que o vidro não é transparente.

quando os defeitos da matematica, quando fecham os olhos, quando o circulo pai ensina o circulo filho, quando o tempo deixa uma música mais bonita.

um pecado essa macieira, mãe do ponteiro, pai dos encaixes, girando de um lado para o outro. além de abrir e fechar,
uma porta que sirva de mesa, para a gente se servir melhor.

8.8.06

degustação

tirar a roupa de outra pessoa ou adivinhar o que ela está pensando são atividades parecidas . o que interessa é o que está por baixo.
toda vez em que fico mudo tento fazer sugestões que digam algo. por exemplo, agora estou lambendo a ficção.
esse silêncio entre a voz e a boca é a imaginação. treinada para não enxergar letras engessadas ou topar em pedras egocêntricas. justamente por isso, sensibilizada no paladar dos gestos. ainda que caia no esquecimento.
isso porque a lingua também quebra.

7.8.06

vale

para os momentos em que o "eu não posso" é combustível para o " eu quero"...
tinha o capacete. era um fato. também sabia fazer vinho da uva. fermentava as idéias.
olhava para as cotações nas vitrines, sugando o ar, fazendo monóxido de carbono nas monoculturas de paisagens. filmes, longas metragens, essas miragens. uma salva de tiros é sempre uma contradição, como tirar a salvação.
a balança perdeu as contas de quantas vezes tentou se enganar. tropeçava sempre nas consequências o mágico da previdência. e carregava no sotaque o mudo culto.
notícias dos valores, notícias profundas.
também podem servir para bombardeios cirúrgicos e cirurgias bombásticas.

2.8.06

trajetos

tem mais estômago que cérebro a fome de conhecimento. também pode-se dizer que são mais literais do que significativas as sopas de letrinhas.
ainda que se possa afirmar que são mais daltônicos que cronologicamente corretos os poetas que caem duas vezes no mesmo lugar. como os semáforos inteligentes.
os macacos tentando encaixar o retângulo no lugar do círculo.
como as pessoas que detêm o amor.
grandes rios e as erosões de suas margens sempre trazem lembranças sujas de barro.

1.8.06

ponderar não é preciso

bombas de gás, os sonhos confusos na baderna, a rua tomada. de um lado as vontades, do outro os livros mau lidos. era hora de chafurdar na incoerência, mas quem é que conseguiria não fazer sentido? as conversas todas de trás para a frente eram também bússolas para as balas de borracha, para as bolinhas de gude e para os guindastes carrancudos que levavam e traziam os fantasmas das construções.
estávamos gestando nossa mudança. prontos para o futuro que não precisamos enxergar. descendo os nervos, ultrapassando a pele, alcançando o coração.