22.4.06

até aqui

uma viagem dai, um doce daqui. depois um cigarrinho, muita saudades.
operário ou vanguarda?
marcha suave do vento convalescendo da noite.
o suco está na geladeira, a forma de bolo quebrou.
e fico imaginando sua pupilas dilatadas. estou grávido.
o que me faz nesse momento, mesmo não sendo o que me fará daqui um pouco, é tão seu quanto meu tempo,minha concepção de tempo e eu podemos ser de alguém, mesmo quando não nos compreendemos.

20.4.06

a cabeça da dor

ontem, através da noite, uma garrafa me bebeu e eu estive uma ampulheta. eu vazava areia, meus ouvidos doiam, fui fazer uma anotação mas a caneta me desfez.
ao fogão, tive a clara visão de que fritava minha mão.
no banho o sabonete é quem se limpava em mim, depois o travesseiro dormiu na minha cabeça. as roupas que eu uso estão me usando; como faz a tv com o controle remoto e o controle remoto com meu dia.
estou confessando enquanto peco, o dinheiro vai pagar o aluguel comigo e depois vai ouvir música, para poder tirar férias das portas da casa.

19.4.06

canil municipal

tem saudades chiclete. acaba o açucar, a gente continua mascando e quando joga fora ainda gruda no tênis.
tem lembrança cacto, que nasce no asfalto; no deserto lotado.
tem memória tubarão, que sente o sangue de longe e volta com toda a fome do mundo para espantar os cardumes de raciocinios.
além delas há os documentários que a gente sabota. e além deles está a janela, que se abre cada dia para um céu diferente.

18.4.06

lúdico

então chegou um dia em que - face ao estágio avançado das trocas, tanto as reais quanto as simbólicas, naquela sociedade perdida da Onanolândia - as pessoas resolveram comprar e vender seus sonhos.
a tabela de preços, as tonalidades, a listagem dos tipos, o prazo de devolução. tudo nos confomes.
foi um tal de um comprar o sonho de voar do outro, o outro pagar com o sonho de consumo do um e assim por diante.
eu, por exemplo, quando vou dormir nem sei mais o que é meu e o que é dos outros. esses dias adquiri um sonho de cantor, mas um vaso com um bonsai de tomates insitia em aparecer pelos cantos do sonho. durante toda a noite. mudei para um sonho com mulheres e livros que estava na promoção e o vaso continuava lá.
e agora, com esse vaso traficado, com a grana gasta, com o sono devoluto, o que fazer? ouvir a voz:
- o negócio é esse mesmo, vai sonhando.

17.4.06

amortecidos

eu sou aquela praia, o que aconteceu nela acontece comigo. os pensamentos de areia.
você é aquele céu, as teias de nuvens.
a sombra e o reflexo; de maneira que a realidade somos nós juntos.

12.4.06

falando

resolvido a pegar um ônibus qualquer acabou desovando no centro pela madrugada calorosa da terça-feira, 11. algum tipo de sarna na intuição que serviu para entender diferente as pessoas.
ela espalhou as coisas pela casa e me deu a certeza de que precisa de espaço. está ai uma das vantagens de olhar, o cumprimento pelo comprimento. depois imaginei-a com 3 metros de altitude, 3 de distância, o que quer que seja. ela fica longe engaiolada.
deixar. traquitana bendita, com as buzinas em coro arrancando os cabelos e os dealers cotando os preços dos remédios, cortando a bolsa, cortando os pulsos, gastando impulsos. ô, coisa; vê se pára com essa mania. ou resolve na força ou na argumentação. que falta de criatividade.
pois na volta, descarregado, com as palavrinhas pequeninas já perdendo a vontade ai piscou dentro da lembrança aquela. amor. a calçada, o posto de gasolina e a luz no asfalto.

11.4.06

cascata

antibióticos são como vaselinas que são como sapos que são como mel.
como no capitalismo ideal em que cada capítulo paga ao outro para escreverem histórias cíclicas.
ou no sistema bancário em que os dentes careados encadeiam a mastigação com a fome.
se chegar bem perto da sua cabeça pode ser que consiga ouvir as vozes.
cansou e sentiu dormir.

10.4.06

a lua transparente

o terceiro mundo terceirizado está canonizando pesadelos. o procedimento: fazer concreto com intenções e depois enterrar os fantasmas na horta trangênica.
estagnado ou em movimento, o que importa é que exporte o bastante para esvaziar a culpa em dólares.
de grão em grão é capaz que engraxemos os sapatos. comsumesmo.
reforma agrária, distribuição de renda, justiça para todos. o que é isso mesmo? ah, sim. lei de incentivo fiscal.
sair para dançar ao som de campanhas de festim. encolhendo o voto.

7.4.06

família

a tia conveniência se afogou na piscina ética. o tio argumento ainda tentou fazer um boca a boca, mas já era tarde. o enterro foi no cemitério da semiótica.
passados alguns anos do acontecido acho que posso dizer que foi uma lição de vida.
isso tudo porque pouco antes de cair no aquário de gente, a tia havia se entupido de carne e salada, enquanto enunciava sua fé no futuro. haveria um dia melhor, haveria ordem e lógica e todos conseguiriam realizar o que quer que quisessem.
enfim, para dar fecho; as primas esperança e irônia cresceram sem mãe.

5.4.06

não sei o que isso quer dizer

estavam jantando expectativas. eram as estrelas esperando para entrar na noite.
depois foram tomar um banho intuitivo. como os gatos subindo nos telhados para farejar comida.
então esperaram o amanhecer, como uma morte seletiva, que faz mais bem que mal. um renascimento como a páscoa para o cacau.

1.4.06

então tá bom

1- pois então, em um país tão cheio de lunáticos pelo menos um teria que ser astronauta.
2-"vai dar merda". está ai uma frase que transforma cegos em videntes.
3 -e sobre aquele filhote de zebra revoltado com os leões:
para quem ainda não sabe. havia nas largas paragens da savana da vasectomia um filhote de zebra que não conseguia se conformar com a complacência dos seus quando chegavam os leões para cobrar o dízimo. o filhote tentava planejar contra ataques, construir armas, iniciar uma greve, fazer-se ouvir, mas todas as outras zebras achavam que aquilo era parte da natureza e que não havia muito o que fazer contra os leõs, que afinal nem eram o maior problema. havia ainda os crocodilos, as hienas, a fome e os tropeços.
o filhote de zebra foi crescendo cada vez mais indignado com a idéia de virar comida dos outros, perdeu a mãe, não sabia quem era o pai, deixou irmãos, viu primos serem comidos, apodrecerem, se degenerarem.
até que um belo dia ( que belo conceito é um belo dia) o filhote, já não tão filhote assim, cansado de ser excluído pelas outras zebras resolveu encampar a idéia de que a vida é assim mesmo e que todo mundo serve para alguma coisa e que o ego só atrapalha e foi dar uma volta inspirado pela aceitação social.
não deu outra, deu zebra.