19.10.06

casamento

demos um beijo talibã em nova york, depois sexo pagão no altar cristão. para fechar abraços transparentes na ordem da carne.
bom termos essas cordas todas para pendurar nossas histórias, farejar nós.
um chuveiro permanente, derramando esquizofrênias de verão ou inverno, conforme o sentimento. registro aberto.
dormimos na palha, procurando a posição certa para decolarmos, fermentando a varanda de onde vamos olhar o mundo dar voltas. e eu pego em sua mão o calorzinho bom de todos os tempos misturados, desmanchados de vinhos.

18.10.06

quarta-feira

vinha descendo a rua com seu joelho manco quando lembrou de passar no sanatório para pegar as entradas do show.
ainda havia duas horas para a chuva começar e precisava tomar um banho de águas vivas antes de repassar a receita dos cigarros.
estava com gosto de outra coisa, mas insistia em perceber intenções no lado de dentro dos gritos que dava a cada degrau que subia.
estava na promoção internacional.
um mendigo de binóculos pode dar perspectivas além das contagens regressivas. nós não estamos dormindo além do necessário.

17.10.06

está chegando

disse que iria parar, mas sabia que só precisa falar para se sentir melhor. não iria parar com nada. falar era um alívio, a tampa da panela.
e se espantava com o poder desse alívio, a ponto de contar com as palavras para fazer suas pequenas merdas cotidianas. terapia evolutiva. os polegares da consciência.
sua voz era até engraçada, confessando para si mesmo; não tinha graça quando falhava na promessa ou escorregava em algo que sabia ser mentira.
era sempre nesse momento que o poder das palavras perdia um pouco da magia, sabia que tudo era questão de indução. suícidio auto-assistido, auto-narrado, o direito penal.
era isso ou respirar fundo.

10.10.06

o vaso

era uma planta de um prédio. e assim era também um número. por consequência era por consequência. o que não significa que também não seja em outras relações que não as causais.
apesar do fato das relações causais serem muito abrangentes. como explicam os polegares das águas vivas.
- mas eu vi, a bomba explodiu aqui.
- senhor, não explodiu bomba nenhuma aqui. ninguém mais ouviu nada nem viu fogo e não há nada destruído. não há nenhum cadáver, nem marcas em nenhum lugar.
- eu estou dizendo. foi bem aqui. você não acredita em mim?
-certo senhor, então está bem. nós vamos registrar a sua consideração e depois entramos em contato.
- espere, quem colocou a bomba morreu na explosão. acho que explodiu antes da hora.
- sim senhor. um homem bomba.
- não era um homem. era uma nave!
- ah...
- o senhor não costuma ler revistas?
- eu não tenho tempo. só vejo televisão.
- então! hoje a noite sairemos nas notícias. explosão que ninguém viu preocupa o brasil; após os comerciais...
- e o que nós ganhamos com isso?
- nós ganhamos a corrida espacial.

4.10.06

sonho terapêutico

eu estava vestido de freira e tinha que dar uma palestra para uma sala cheia de pessoas engravatadas, comendo melancias. fui começar a falar e só conseguia pronunciar 13, 45, nulo! branco! abstenção!!!
o problema é que as gravatas pareciam não se importar. uma delas virou-se e perguntou-me:
a balança comercial não mente! é um dedo na ferida...
eu respondi: 45!
apareceu um moça com muitas taturanas rastejando por seu corpo e disse: a peça está cancelada. está havendo um litígio pelo ouro. as pessoas ficaram agitadas e, bem em minha frente, algumas delas começaram a virar bebês!
tentei pedir calma mas só falava: abstenção! abstenção!
notei que estávamos todos em uma grande jaula, que eu sabia ser de um enorme pelicano ciclópe que só comia quem tinha convicção política. eu gaguejei 45,13...
eu começei a salivar muito, já não conseguindo falar. fiz as contas mentalmente, 45 mais 13=58. 5 +8, 13. 1 mais 3 é 4. 4 e 5 dão 9, 9 menos 4 é cinco.
e eu procurando os diferentes nomes para meu fetiche por freiras!

2.10.06

diálogos de halloween

- você está cansando minha beleza.
- tudo bem, não foi minha intenção. é que eu deixei minhas conotações na outra calça. e sempre que te encontro estou com essa! cheio de pulgas.
- não, não tem problema. vou furar seu olhos, já que você não usa mais.
- sei lá, é que eu tenho uma abóbora em casa faz três meses e pensei em falar dela para você.
- o quê?!